sexta-feira, 26 de março de 2010

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Na filosofia chinesa, o mundo é composto por duas forças complementares do Yin-yang que oscilam entre noite e dia, bem e mal, prazer e dor, quente e frio, e infinitas dualidades que engendram tudo o que existe. A terceira lei de Newton afirma que o mundo é regido pelas forças contrárias de ação e reação, evidenciando a dualidade presente em cada ato realizado.

Esse princípio dialético está presente na idéia de Sabyne: para construir é preciso destruir, para erguer o alto, é preciso erguer o baixo. O homem constrói seu lar a partir da destruição da natureza, extraindo do solo a argila para o tijolo, das árvores a madeira, das entranhas das montanhas o minério; tudo o que é construído pelo homem é extraido da Terra. É uma verdade óbvia mas que está sedimentada nas sucessivas camadas de artificialidade produzidas pelo homem, e por isso despercebida. A vida contemporânea urbana é industrializada. Em todos os aspectos o homem usa e consome bens industriais, até a alimentação é artificial. A natureza crua está revestida de asfalto, concreto, alumínio, pvc, silicone, e tantas outras peles polimerizadas. Consequentemente, o viver torna-se sintético, um produto de laboratório - corrigido por doses de diazepam.

Realizado apenas com terra e grama, o Projeto Casa de Sabyne Cavalcanti expressa numa linguagem clara as forças duais de Yin-yang:os círculos que sobem são os mesmos círculos que descem. Esta proposta descasca o verniz do "progresso", questionando o poder de transformação da natureza pelo homem. Construir e destruir são faces da mesma moeda, paga pela ambição humana.


Artur V. Cordeiro

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